CONFERENCIA LATINO AMERICANA DA CRCI: “Grau zero de estratégia” em favor do PSOL e contra o catastrofismo, a FUA e a Revolução Permanente
Para defender a CRCI, a TPR pede sua
reincorporação e chama a que o Secretariado Internacional tome uma posição
Christian Armenteros
Em setembro, Jorge Altamira participou do
Simpósio da Esquerda na América Latina organizado na USP do Brasil. Como parte
do mesmo, o PO convocou uma “Conferencia Latino Americana da CRCI”. Desta mesma
surgiu um documento intitulado “A bancarrota capitalista sacode a America
Latina: Por uma alternativa operária e socialista. Pela fusão da esquerda
revolucionária com o movimento operário” que contém a assinatura das delegações
do Partido Obrero (Partido Operário em Português) da Argentina; do Partido de los
Trabajadores (Partido dos Trabalhadores em Português) do Uruguai; de Tribuna
Classista de cinco Estados do Brasil; de personalidades e militantes do Brasil,
Paraguai e Chile.
“CONFERENCIA LATINOAMERICANA DA CRCI”: SEM
CONVOCATÓRIA PÚBLICA, SEM DIFUSÃO E PARA SAIR AO RESGATE DO PSOL
Neste contexto é necessário fazer algumas
caracterizações:
1. Com respeito a convocatória, foi uma
farsa tanto por a inexistência de uma prévia convocação (ninguém sabe de nenhum
trabalho público de reuniões e debates com a esquerda latino americana para se
somarem a mesma) como pela reduzida participação efetiva das próprias seções
membros e simpatizantes da CRCI na América Latina (não estiveram presentes nem
a Venezuela, nem o México, nem a Bolívia, nem o Chile e só participou o Brasil,
Uruguai e Argentina). Tudo isto e ainda fazendo a ressalva de que a Conferencia
foi no Brasil e obviamente não se dedicou nem meia linha ao PCO (ex-seção
brasileira do CRCI).
2. Com respeito ao conteúdo, não faz mais
do que repetir alguns lugares comuns da tradição política do PO. Por isto, no
debate do qual participou Altamira em Porto Alegre, o mesmo se dedica a
explicar que o verdadeiro objetivo do documento é propor “um trabalho latino
americano para que ninguém pense que é uma manobra política neste país, mas uma
tarefa de características gerais, amplas, etc.” Ou seja, sua proposta de
“frente única da esquerda revolucionária” está dirigida a “unir a esquerda que
estava unida no Brasil e se rompeu (como no caso de Heloísa Helena)”, ou seja,
uma formação parlamentar frente-populista que não superou programaticamente o
próprio PT de Lula, e de quebra, em Belém participa de uma frente popular junto
com o PCdoB (governamental), Edmilson Rodrigues (ex-integrante do PT) e, no
segundo turno, teve o apoio do próprio PT. Só quando alguém consegue visualizar
esta luta política é que pode realmente compreender o texto. O documentou
votado pela “Conferencia Latino Americana da CRCI” não busca intervir para que
os trabalhadores saquem suas conclusões e rompam com o PSOL, mas, pelo
contrario, para sair ao seu resgate por meio de uma proposição frentista que se
esquiva pronunciar-se sobre o PSTU, a LER-QI ou qualquer outro partido
brasileiro. Isto está tão claro que o próprio documento não dedica uma só linha
a estudar o problema da esquerda para ter as mãos livres a fim de estabelecer
qualquer acordo.
ANTI-CAPITALISMO E ANTI-IMPERIALISMO: APENAS
UM PROBLEMA DE MÉTODO?
Sem dúvida, o documento não tem só um fim
pragmático mas, consultado no debate sobre seu vínculo com a Frente Única Anti-imperialista
Altamira manifestou o que a TPR vem denunciando desde nossa expulsão: sua
guinada anti-capitalista e a substituição da tradição programática do PO pelo
“grau zero de estratégia” elaborado por Deniel Bensaïd e pelo SU. Com uma
pequena diferença de que estão importando o anti-capitalismo de um país imperialista
a um país oprimido.
A primeira definição que realiza Altamira é
que “não se pode falar de luta contra o imperialismo na America Latina a margem
da bancarrota capitalista mundial”. Isto é relativamente certo na medida que a
bancarrota capitalista reforça a OPRESSÃO NACIONAL e que NUNCA A ATENUA.
Todavia, as palavras de Altamira tratam de justificar exatamente o contrário
pois: “Cda vez que o imperialismo atacar vamos fazer uma unidade, mas a
perspectiva estratégica de que o proletariado mundial e da América Latina
apareçam como classe frente ao capital nesta crise depende de uma questão
estratégica, não de coisas pontuais. Se não se apresenta como classe vamos
terminar com o fascismo e, paradoxalmente, a debilidade da esquerda impede que
emirja o fascismo porque hoje não existe perigo nenhum por parte da esquerda.
Para a burguesia é melhor manter governos democráticos reacionários. Nós não
nos distanciamos da pauta. Queremos fazer a melhor contribuição a pauta. De
modo a clarificar o que é seu ponto central. Em todo caso, confirma-se que não
está devidamente contemplada a crise mundial da esquerda que é um problema que
está sendo deixado a margem.
A forma de entendermos nós esta “complexidade”
é contundente: “A estratégia (anti-capitalista) não depende de questões
pontuais (a opressão imperialista e o país concreto em que se alguém se coloque
pela luta revolucionária). Nós não nos apartamos da pauta (a FUA) mas que
queremos fazer a melhor contribuição a pauta (anti-capitalismo). Em todo caso,
(se estamos equivocados demonstra que é preciso discutir contra nós mesmos).”
Esta raivosa revisão do programa histórico do PO não tem nada de improvisado
dado que em seu livro “No es un martes negro más” (que Altamira menciona no
debate) é reivindicado e publicado um texto fundacional de nossa corrente
histórica intitulado “Las ‘tesis’ del Comité Internacional” escrito por Jorge
Altamira e Julio Magri em Agosto de 1981 (Internacionalismo N° 3) como arte da Tendência
Quarta Internacional (TCI). Assim, a publicação deste texto não é ocasional mas
para marcar que a tática que visa separar a classe operária das direções
nacionalista é a Frente Única Anti-imperialista. O fato de que seja “o marco da
bancarrota capitalista” (e não a opressão nacional) é o que existe de realmente
anedótico porque se a FUA só servisse para momentos de estabilidade capitalista
e não para sua crise então fica demonstrado como totalmente impotente e tenderia
que ser rechaçada categoricamente. Uma tática (a FUA) e uma estratégia (a Revolução
Permanente) que não servem para intervir na bancarrota capitalista não servem
para nada. Por isto, agora parece que Altamira, citando seu próprio livro, que
reivindica explicitamente a FUA e a Revolução Permanente pretende fazer-nos
chegar a conclusão contraria sem animar-se a dizer.
Por isto, em sua intervenção Altamira risca
de uma canetada só a distinção entre
países opressores e oprimidos pelo imperialismo ao reivindicar: “A tarefa
principal na América Latina é a mesma que no mundo com naturalmente as
particularidades de programa, de reivindicações. (…) O problema é de métodos. E
então, um tem um método. Otros tem outros métodos. Me parece absolutamente
normal. Me parece que é uma discussão de camaradas. Naturalmente em uma primeira
discussão pode parecer confuso, mais depois vai se clarificando e vão buscando
formas de atuação, etc.…”.
ARGENTINA, CATASTROFISMO E
ANTI-IMPERIALISMO
Mas atenção, isto parece uma espécie de
“aggiornamento”, ou um “pragmatismo revolucionário” por parte de Altamira na
realidade encobre seu ecletismo e uma mescla de teorias que nenhum
revolucionário deveria deixar passar impunemente. Para o novo Altamira: “O
anti-imperialismo na América Latina foi mudando de forma. Porque há 100 anos a
América Latina não possuía operários. Argentina era um país industrializado (de
uma canetada, as contribuições de Milcíades Peña e Librorio Justo são jogadas
no lixo e substituídos por ideias típicas de Mariátegui ou apologistas do
nacionalismo burguês) mas nos outros países a classe operária era muito
minoritária. O Brasil era uma oligarquia cafeeira. Hoje a classe operária
industrial brasileira é muito maior e o peso de sua luta contra a burguesia se
faz sentir. Então, o problema da dominação imperialista aparece atenuado por
uma grande luta operária interna. Nós não vamos sacrificar a luta da classe
operária contra a burguesia nacional de seu próprio país por nenhuma luta
anti-imperialista. Isto está relacionado com a crise capitalista mundial. Para
alguém isto pode parecer complexo.” Como se vê, Altamira insinua que a FUA re quer
“sacrificar os interesses da classe operária” mas parece desconhecer o ABC da
Revolução Permanente: a classe operária não pode conquistar sua emancipação
social sem resolver ao mesmo tempo a questão da opressão nacional. Do
contrário, Altamira retrocede do socialismo para o corporativismo estreito e
fabril ou ao socialismo puro como uma caricatura de “classe contra classe”,
negando que a classe operária tem que ser um autentica dirigente nacional na
revolução democrático-burguesa (Teses da Revolução Permanente).
Por sua vez, observando o discurso de
Altamira de fechamento do XXI Congresso do Partido Obrero, pode notar-se com
toda clareza que a tese de que “Argentina é um país industrializado” (e que,
portanto, só caberia a mesma uma revolução socialista pura) já estava esboçada
na seguintes afirmações: “A historia das crises mundiais tem demonstrado, pelo
menos desde a crise de 1828 que pavimentou o caminho a Rosas, que Argentina se
desenvolveu sob os golpes de crises mundiais. A queda do regime de Rosas é um
resultado tardio da crise mundial de 1848. Este país foi industrializando depois
da crise dos anos 30’, os primeiros sinais de industrialização ocorreram com a
grande crise de 1890 (só superada pela bancarrota de 2001) e, em qualquer livro
de texto vocês podem ler que a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, como não havia
de quem importar, favoreceram a industrialização. Esta é uma visão dialética da
crise, que requer um desenvolvimento superior. A crise, ao romper as relações estabelecidas,
oferece uma oportunidade para as nações submetidas por esta relação, a
empreender um desenvolvimento relativamente autônomo. Esta é a historia não só
da Argentina, mas também da Turquia e Brasil, ou da própria Alemanha ou Itália
que são nações burguesas que chegaram tarde ao mercado mundial. Para
conquistar, no entanto, a oportunidade de um desenvolvimento relativamente autônomo,
como consequência da crise, é necessário primeiro que a crise estale, que faça
seu trabalho de destruir parcialmente as relações precedentes. Porque a
industrialização dos 30’ não obedeceu a uma planificação da oligarquia
argentina com o ditador Uriburu, e com o sem vergonha de Justo posteriormente,
como prova o tratado de Roca Runciman, que defendeu até a morte a cota pecuarista
no mercado de Smithfield, em beneficio das importações e remessas de lucros das
companhias britânicas. Somente quando todo isto veio abaixo, e a economia
argentina caiu em 20%, a própria oligarquia argentina começou a impulsionar
algumas fábricas e a empreender um processo de industrialização parcial.”
Desta forma, na base do abandono da tática
da Frente Única Anti-imperialista se localiza a negação do catastrofismo e o
balanço de que o desenvolvimento capitalista foi possível a partir de que a
crise do imperialismo habilitou um processo de desenvolvimento capitalista
autônomo em paralelo (e inclusive colaborando parcialmente) com o sistema
imperialista.
NACIONALISMO BURGUÊS HISTORICAMENTE PROGRESSIVO OU “BONAPARTISMO COM FRASEOLOGIA
ANTI-IMPERIALISTA”?
Desta forma, com uma lógica absolutamente
alienada sob a pressão ideológica do morenismo, chegou-se a conclusão de que “o
problema principal na América Latina é desmascarar ao bonapartismo que por trás
da fraseologia anti-imperialista está submetendo a classe operária.” O raciocínio
é cristalino: dado que existe um desenvolvimento capitalista maduro, o
nacionalismo burguês fica despossuído de qualquer caráter historicamente
progressivo e só se mantém em pé seu caráter bonapartista e reacionário. Daí
que já não se fale de um “bonapartismo sui generis” mas de um bonapartismo puro
“com fraseologia anti-imperialista”. Ou seja, o famoso “duplo discurso” que
denunciam as seitas anti-capitalistas. Isto deixa absolutamente órfã de uma
tática e uma estratégia coerente e abre caminho para mil e uma manobras
empiristas.
Por um lado, se estabelece que “O problema
dos revolucionários é que a classe operária dirija a luta anti-imperialista” o que
é correto na medida em que tem que ser dirigente nacional mas é unilateral
porque se estabelece em oposição a que a classe operária rivalize com o
nacionalismo no marco de uma frente único para disputar as massas operárias e
camponesas. Por sua vez, tem uma inconsistência fundamental que é que a “luta
anti-imperialista” não é acessória da “luta anti-capitalista” mas que faz a
caracterização programática e científica de qual é o suposto caráter da revolução
que se propõe. Se o problema fosse “dirigir a luta anti-imperialista”, então a
tática de reagrupamento anti-capitalista se revela como uma política sectária e
auto-marginalizante que boicota a luta pela revolução permanente.
Por otro, se busca traficar a FUA como
“unidade de ação anti-imperialista”, ou seja, a velha tergiversação morenista
de que “nas ruas fizemos uma frente única com as juventudes do governo contra o
golpe no Paraguai” o que seria igual a uma Frente Única Anti-imperialista. Pelo
contrario, como o próprio Altamira assinala no debate, "as ações pontuais nunca
levaram a nenhuma unidade e sempre foram um campo de manobras para roubar
militantes" e, pelo contrario, a tática da FUA não se trata de simular
anti-imperialismo para ganhar um par de militantes nacionalistas mas de demarcar
os limites do nacionalismo burguês no seu próprio terreno para separar as massas
da burguesia nativa. Como se vê, para ser consequente com esta tática é preciso
abrir o caminho para a estratégia.
QUE LA CRCI SE PRONUNCIE EM DEFESA DA
FRENTE ÚNICA ANTI-IMPERIALISTA
CONTRA O REVISIONISMO MORENISTA
A tática da Frente Única Anti-imperialista
está inscrita no programa do Partido Obrero desde os números 3-4 de Política
Obrera em 1964 e forma parte de uma delimitação principista no interior das
correntes trotskistas em escala mundial. De fato, em seu discurso de fechamento
do XXI Congresso, Altamira pontuou: “Uma das lutas mais complexas que existem
em um partido socialista como o nosso, é contra as tentativas intervencionistas
dos partidos nacionalistas burgueses. Agora acredito que o Partido Obrero vai
publicar um livro muito importante, que vai a reproduzir os programas operários
desde o Manifesto de 1848 até as teses da Quarta Internacional de 2004, passando
pela fundação do Partido Bolchevique, o texto de fundação da socialdemocracia
alemã, o texto de fundação do partido de Rosa Luxemburgo, as teses bolivianas
de Pulacayo de 1946, as teses da COB de 1970 que inspiraram a Assembléia
Popular.”
Como se nota, reivindicar como próprio esse
arsenal teórico e programático é absolutamente incompatível com renegar a FUA em
nome da “Frente Única Revolucionária” próprio do revisionismo morenista. Com
este artigo, não pretendemos que Altamira mude de opinião porque isto que nós criticamos
ele mesmo sabe melhor que nós do que estamos falando. Esperaram-se, talvez, um
pouco de honestidade intelectual e uma sinceridade programática que permita
clarificar a estratégia no interior da esquerda. Se a Frente Única
Anti-imperialista e a Revolução Permanente já não são nem a tática nem a
estratégia porque estaríamos diante de um país plenamente capitalista que deve
avançar em uma revolução socialista pura, seria melhor que Altamira afirmasse
isto de uma vez. Neste contexto se compreende de que lugar saíram Sartelli e os
meninos de RyR.
--------------------------------------------------------------------------------------------------------
RECAPITULANDO: CHEGUEMOS A UM ACORDO:
EXISTE UM ASCENSO OU UM DESCENSO DA ESQUERDA?
Como pode apreciar-se, a inconsistência não
só faz a discussão teórica e programática sobre a FUA mas a própria apreciação
da cojuntura imediata na Europa. Após escrever seu livro “El ascenso de la
izquierda en el marco de la bancarrota capitalista” (“O ascenso da esquerda no
marco da bancarrota capitalista”, em português), agora Altamira parece descobrir
que na realidade não era tanto assim. Exatamente como assinalamos os companheiros
da TPR com nossa carta “La bancarrota de la izquierda anti-capitalista en el
marco del ascenso del frente popular” (“A bancarrota da esquerda
anti-capitalista no marco do ascenso da frente popular”, em português).
"Ao observarmos com cuidado, a
bancarrota capitalista não produziu ‘um ascenso da esquerda’, mas um ‘descenso’
dela. Seu lugar, alí onde se manifesta um giro das massas, tem sido ocupado
pela ala do reformismo que capitalizou o desespero popular e tem sabido dar uma
expressão de conjunto a este desespero, ainda que de nenhum modo estratégico. É
o caso da consigna ‘Governo de Esquerda’, na Grécia, ou do chamado a dissolver
as Cortes e a monarquia na Espanha, e convocar a uma assembleia constituinte. O
reformismo, por definição, não pode planificar uma estratégia, se limita a
conciliar as inconciliáveis contradições históricas. A estratégia reside, na
época atual, no objetivo da mudança histórica, e consiste em mobilizar as forças
motrizes desta mudança histórica." (“Elecciones 2013, un asunto estratégico”,
1/11, Prensa Obrera N° 1246)
Fica colocado, portanto, o aprofundamento
da luta política para que a CRCI se pronuncie em relação a carta e nos reincorporemos
como TPR para poder realizar a luta em defesa da CRCI contra sua dissolução
detrás de Syriza e da frente popular.
No hay comentarios:
Publicar un comentario