PORTUGAL :
POR UM GOVERNO DOS TRABALHADORES
LIONEL ZIVALS (traduzido por Carolina Macedo)
A
greve geral do passado 14N teve lugar sob um clima tenso de uma enorme crise
política (-económico-social). Para que o ajustamento do défice seja
concretizado, o governo de direita de Passos Coelho, pretende «´una reforma ambiciosa de las funciones del Estado´ en la que no
descarta una revisión constitucional» (El Mundo, 30/10), já que «no
existe capacidad para hacer más recortes, después de tres años consecutivos de
ajustes y subidas de impuestos, y considera imprescindible alterar la
estructura del Estado para cumplir las metas de saneamiento financiero” (aporrea.org
8/11). O primeiro-ministro português não adiantou pormenores sobre o assunto
mas resta evidente que o programa de ajustamento com a Troika implica
uma modificação do próprio regime estatal àquele que preside actualmente para
que o governo possa continuar com os cortes que são estimados em 4 milhões (ionline.pt, 22/11).
EXISTE UMA CRISE POLÍTICA ENTRE O PS E O GOVERNO DE PASSOS COELHO
Face a isto, o Partido Socialista
(principal partido de oposição), aprontou-se em afirmar que «hay una
divergencia clara entre el PS y la Troika: de un lado está el PS y el
país, del otro la troika y el gobierno» (Agencia Financiera, 16/11).
Estas declarações não passam de mais uma impostura desta fracção parlamentar,
já que foi o próprio PS, então chefiado por José Sócrates, que inaugurou o
pedido de resgate e a consecutiva implementação do programa de ajustamento.
Este mesmo facto levou ainda à demissão do ex-primeiro-ministro e à subsequente
convocação de eleições antecipadas.
O GOVERNO REPRIMIU E DETEVE DE MANEIRA ILEGAL NA GREVE GERAL DE
14N
A manifestação frente à
Assembleia da República foi brutalmente reprimida pela polícia portuguesa que
espancou e deteve indiscriminadamente centenas de pessoas (nem todos
manifestantes), tendo sido, algumas delas, encaminhadas para a esquadra
especial do Tribunal de Monsanto. Através dos testemunhos recolhidos pelo
jornal Público de 15/11 ficámos a saber os contornos terríveis e
angustiantes em que estas detenções ocorreram : «Não nos deixaram ir à casa de
banho, não nos deixaram sequer fazer um telefonema nem recorrer a nenhum
advogado» ou ainda «Perguntaram-nos a morada, a profissão e obrigaram-nos a
assinar papéis que não estavam preenchidos.Ou seja, fomos forçados a assinar
papéis que nos permitem ser acusados de qualquer coisa, desde crimes contra o
património a tráfico de droga, uma vez que tinham a causa da detenção em
branco». Perante esta repressão brutal, o PCP (Partido Comunista Português), a
burocracia da CGTP (sindicato majoritário de forte ascendente comunista) e o BE
(Bloco de Esquerda) nada mais fizeram do que «lamentar os feitos de violência»
(http://bragadistrito.bloco.org, 16/11) sem denunciar o governo.
OS TRABALHADORES
PORTUÁRIOS MANTÊM UM PLANO DE LUTA NA BASE DE UMA GINÁSTICA GREVÍSTICA DA
BUROCRACIA
Os trabalhadores portuários, que se
encontram em greve desde meados de Setembro, ratificaram, aquando da greve
geral, um plano de luta contra uma reforma laboral que pretende aumentar a
quantidade de trabalhadores precários nos portos. Após a convocatória de greve
de 29/11 a 5/12, a AGEPOR (Associação dos Agentes de Navegação de Portugal),
que se declara manifestamente contra a greve destes trabalhadores, «sugeriu
[...] a colocação de militares "a operar os portos em greve", para
salvar as empresas exportadoras afetadas pela greve dos estivadores» (DN
Política, 15/11). A greve portuária ataca directamente a estratégia da
burguesia de sair da crise através da exportação tal como se depreende das
declarações do ministro da economia, Álvaro Santos Pereira : «Estos paros
tienen un impacto significativo para muchas de nuestras compañías en un momento
en el que el país tiene como objetivo nacional exportar más» (Estibadoresdevigougt.es,
7/11).
CHEGOU O MOMENTO DE IMPULSIONAR UMA INTERVENÇÃO INDEPENDENTE DOS
TRABALHADORES PARA DERRUBAR O GOVERNO E TRAVAR O PROGRAMA DE AJUSTAMENTO, NÃO DE DAR TEMPO AO PS E AO GOVERNO DE
TOMAREM A INICIATIVA
Este quadro merece uma intervenção dos
trabalhadores para não deixar que o governo e o PS solucionem a sua crise
contra os trabalhadores. «Arménio Carlos [líder da CGTP, NdR] assinalou
o pós-greve geral como um “tempo de esperança e confiança, mas também de
acentuação do combate à política de direita e ao memorando da troika" (Público, 14/11). Esta unidade sindical afronta a situação sem
tomar iniciativa política alguma, mas não querendo, ao mesmo tempo, parecer
inerte. Para conseguir este feito reclamou uma vaga «mudança de governo» (DN
Portugal, 14/11), tendo convocado, em simultâneo, uma manifestação para o dia
27/11; dia em que será votado o Orçamento de Estado para 2013. No entanto,
entre a manifestação de 15 de Setembro e a última greve geral transcorreram 2
meses. O PCP, por seu lado, concebe que «é necessário acabar com o governo
antes que este governo e esta política acabem com o país» (Declaraçao de
Jerónimo de Sousa sobre a Greve Geral, 14/11), enquanto que o Bloco de Esquerda
postula um governo de esquerda, pedindo ao PS que rompa com a Troika (partido
que, lembremos, introduziu esta entidade em Portugal). João Semedo, um dos
novos coordenadores do BE, afirma que «Não temos nenhum formato pré-definido
para um Governo de Esquerda» (bloco. Org, 16/11). A coordenadora Catarina
Martins disse inclusivamente que «Para que haja um Governo de Esquerda é
preciso juntar todas as pessoas, partidos, movimentos que queiram romper com o
memorando para poder reestruturar a dívida, que percebam que é preciso controlo
público do crédito para haver investimento e combater o desemprego, que queiram
devolver salários e pensões e que queiram reformar o sistema fiscal para um
sistema mais justo» (ibidem). Assim sendo, estas propostas não
representam mais do que um programa burguês anti-austeridade, revelando-se esta
última perspectiva, em particular, uma autêntica quimera. Na verdade, é sabido
que enquanto a ruptura com o capitalismo não for definitiva, os cortes, a austeridade ou os ataques contra os
trabalhadores (o que se tem visto com François Hollande em França)não vão
cessar.
CONTRA AS DILAÇÕES DA BURGUESIA E OS REFORMISTAS, IMPONHAMOS UMA
FRENTE ÚNICA PARA DERRUBAR O GOVERNO E TERMINAR COM OS AJUSTAMENTOS
É necessário
desenvolver profundamente a orientação que temos vindo a expor, ou seja,
derrubar Passos Coelho e romper com a Troika e com o programa de ajustamentos.
Esta mudança tem que assentar num plano de luta que não dê tempo ao governo e
ao PS de rearmar-se e descarregar a crise nos trabalhadores. Nesse sentido, esperar que se juntem todos os 'anti-austeridade',
como proclama o Bloco, é priorizar os tempos parlamentares ao das lutas de
classes. Urge uma ruptura com esta política e tomar as ruas com um plano de
luta para derrubar este governo e a troika.
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